Já me disseram ser muito parecida com uma sobremesa belga, com um estranho nome flamengo que não me atrevo a reproduzir. Talvez. Mas a história que eu conheço sobre a origem da omelete doce é bem diferente.
Nasceu da gula de um primo meu, estudante exilado (no Porto, nada de muito dramático...), e desesperado por alguma coisa doce às 5 da manhã, ao voltar ao apartamento depois de uma noitada de farra. Abriu o frigorífico, esperançado, mas todos os chocolates tinham já sido vítimas de outras noites daquelas. No armário também não encontrou nem vestígios de bolachas. Desarmado mas não vencido, pôs-se a pensar no que poderia fazer àquela hora, com o que tinha em casa. Quase nada, e por dois motivos: a despensa estava praticamente vazia, e os seus dotes culinários resumiam-se a ovos e bifes. Tudo o que tinha em casa, além de whisky, era açucar, 2 ovos e farinha. Mais nada. Podia fazer uma omelete normal (isso ainda sabia fazer) mas o que lhe apetecia mesmo, mesmo, era um doce. Então surgiu-lhe a ideia de pôr açucar na dita omelete, e ver o que saía dali. Pensou que o pior que podia acontecer-lhe era deitar tudo para o lixo, se não saísse nada de jeito. E deitou mãos à obra.
Bateu os 2 ovos, juntou-lhes 2 colheres de sopa de açucar, e, para aumentar o tamanho da omelete, acrescentou outras tantas de farinha ao batido. Por graça (e ainda embalado pela noite de copos), juntou ao creme um gole de whisky. Aqueceu uma frigideira com manteiga e enrolou a omelete rapidamente, porque estava cheio de fome. Passou-a para um prato e deitou-lhe mais algum açucar por cima, e também um pouco de canela para desenjoar.
O resultado deixou-o tão feliz que começou a fazer esta sobremesa para os amigos, acabando por tornar-se a sua especialidade. Com o tempo foi apurando as quantidades e a mão, e a notícia espalhou-se: o delicioso petisco podia ser feito por qualquer um e, ainda por cima, em poucos minutos.
Faço-a em minha casa há anos, quando é preciso uma sobremesa rápida ou quando apetece uma ceia doce, e sempre com o maior sucesso. A verdade é que, sempre que se descreve esta omelete, toda a gente torce o nariz (eu também torci, quando ouvi falar nela pela primeira vez). Mas não conheço ninguém que não se lhe tenha rendido, depois de vencida a primeira resistência.
Para ficar perfeita, há regras:
1. Bater muito bem os ovos, a farinha e o açucar, até fazer um creme espesso.
2. Mexer e enrolar rapidamente a omelete, deixando-a mal cozida por dentro. O interior deve ficar parecido com ovos moles.
3. Servir imediatamente, ou seja, ainda quente.
4. O whisky é opcional (pessoalmente, prefiro sem álcool). Mas, para quem gosta, também pode ser Vinho do Porto ou Conhaque.
5. Fica melhor feita em doses individuais (2 ovos), mas pode fazer-se maior, se bem que seja mais difícil de enrolar depressa para ficar húmida por dentro.
4 comentários:
Eh lá! Esta não conheço!
Vou experimentar.
Beijos.
pelos ingredientes, é de certeza uma boa sobremesa.
vou experimentar um dia. posso copiar a receita?
À vontade, Cândida. É simples de fazer e óptima.
Olha, a receita, só experimentando...
Mas a origem é muito divertida!
Ah!Acabei de descobrir, pelo contexto, que frigorífico nada mais é do que geladeira,aqui no Brasil...
Legal!
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