Éramos um bando. Indisciplinado, barulhento, alegre, muitas vezes quase maltrapilho, de tanto subir árvores e correr no campo, em completa liberdade. Entre rapazes e raparigas, todos primos direitos, éramos 17. De todas as idades, de todos os tamanhos, de todos os feitios. Juntávamo-nos sempre, ao jantar de Domingo, em casa da Avó. E era uma festa. Vinham os que moravam ali mesmo ao pé e os que moravam longe, os que ainda não tinham saído de casa e os que estudavam nos colégios internos - os mais velhos. O jantar na Avó obedecia a rituais sagrados: a grande mesa rectangular posta na diagonal da casa de jantar, para cabermos todos sentados; a divisão, a meio, entre os "crescidos" e os "miúdos" - um appartheid bem aceite por todos, até com algum alívio; a proibição de levantar da mesa até que a Avó o decretasse, com alguma solenidade. A longa espera - era como parecia à nossa sempiterna fome de crianças - até que as travessas chegassem ao nosso lado da mesa (o último a ser servido, claro), era compensada pela relativa liberdade de movimentos e tagarelice, já que o "controle" dos pais estava afastado e ocupado com conversas de adultos, do outro lado da barricada.
O bando tinha a sua hierarquia, bem definida pelas idades. E as regras eram simples e leoninas, como o são sempre nesses grupos: os mais velhos mandam, os mais novos obedecem. A minha prima Rosarinho era dos "do meio": nem dos primos mais velhos (que ditavam as regras) nem daqueles que eram considerados bebés e ainda não tinham voto na matéria. Esse era um dos seus azares, a idade. O outro, bem maior, era o facto de ser filha única. A única filha única, aliás. Era a mais vigiada, a mais vítima da ansiedade dos pais, a mais protegida de todos nós. Só quando conseguia diluir-se no bando se libertava um bocadinho da atenção excessiva de que era alvo. Foi dos primeiros de nós a urbanizar-se: depois de uma passagem de alguns anos pelo Alentejo, os meus tios foram viver para Lisboa. E foi na cidade que ela encontrou verdadeiramente o seu espaço: respirou fundo, tomou balanço e voou sozinha. Enfim, transformou-se numa mulher independente, segura, completamente autónoma. E divertida. Não é, exactamente, uma típica fada do lar. Nem faz questão disso, porque tem muito mais que fazer. Diz, com graça, que dos trabalhos domésticos só gosta de arranjar jarras de flores e que, nisso, "saíu à Sissi da Baviera, mas sem buço". Mas não é verdade. Também cozinha quando quer, e bem. Esta "Empada de Pato à Sissi" (que ela inventou e baptizou) é um bom exemplo disso. Curiosamente, foi ela que herdou a casa da Avó, reduto das mais doces memórias de infância de todo o bando. Voltou às origens, pelo menos aos fins de semana. E não foi, certamente, por acaso. ½ pato cozido, desossado e desfiado (pela Maria, que esta é a parte chata)
1 embalagem de cogumelos frescos
1 molho grande de coentros
1 pacote de natas
2 embalagens de massa folhada fresca
(para uma forma de tarte de 26cm de diâmetro)
Salteio os cogumelos em azeite e 3 ou 4 destes de alho, junto o pato e os coentros. Para aveludar, junto 1 pacote de natas. E tempero… com pozinhos de perlimpimpim (pimenta, cebolinho, e sei lá, o que apetecer na altura).
Ponho na forma de tarte que já forrei com uma das massas, cubro com a outra massa, e forno com a empada.
É um sucesso e fica lindamente com uma boa salada de tudo (alface de várias qualidades, espinafres crús, rúcula, nozes, passas, e mais o que a imaginação quiser…)
O bando tinha a sua hierarquia, bem definida pelas idades. E as regras eram simples e leoninas, como o são sempre nesses grupos: os mais velhos mandam, os mais novos obedecem. A minha prima Rosarinho era dos "do meio": nem dos primos mais velhos (que ditavam as regras) nem daqueles que eram considerados bebés e ainda não tinham voto na matéria. Esse era um dos seus azares, a idade. O outro, bem maior, era o facto de ser filha única. A única filha única, aliás. Era a mais vigiada, a mais vítima da ansiedade dos pais, a mais protegida de todos nós. Só quando conseguia diluir-se no bando se libertava um bocadinho da atenção excessiva de que era alvo. Foi dos primeiros de nós a urbanizar-se: depois de uma passagem de alguns anos pelo Alentejo, os meus tios foram viver para Lisboa. E foi na cidade que ela encontrou verdadeiramente o seu espaço: respirou fundo, tomou balanço e voou sozinha. Enfim, transformou-se numa mulher independente, segura, completamente autónoma. E divertida. Não é, exactamente, uma típica fada do lar. Nem faz questão disso, porque tem muito mais que fazer. Diz, com graça, que dos trabalhos domésticos só gosta de arranjar jarras de flores e que, nisso, "saíu à Sissi da Baviera, mas sem buço". Mas não é verdade. Também cozinha quando quer, e bem. Esta "Empada de Pato à Sissi" (que ela inventou e baptizou) é um bom exemplo disso. Curiosamente, foi ela que herdou a casa da Avó, reduto das mais doces memórias de infância de todo o bando. Voltou às origens, pelo menos aos fins de semana. E não foi, certamente, por acaso. ½ pato cozido, desossado e desfiado (pela Maria, que esta é a parte chata)
1 embalagem de cogumelos frescos
1 molho grande de coentros
1 pacote de natas
2 embalagens de massa folhada fresca
(para uma forma de tarte de 26cm de diâmetro)
Salteio os cogumelos em azeite e 3 ou 4 destes de alho, junto o pato e os coentros. Para aveludar, junto 1 pacote de natas. E tempero… com pozinhos de perlimpimpim (pimenta, cebolinho, e sei lá, o que apetecer na altura).
Ponho na forma de tarte que já forrei com uma das massas, cubro com a outra massa, e forno com a empada.
É um sucesso e fica lindamente com uma boa salada de tudo (alface de várias qualidades, espinafres crús, rúcula, nozes, passas, e mais o que a imaginação quiser…)